O "Prêmio" vem antes das Leis!

O "Prêmio" vem antes das Leis!

Janeiro de 94 eu e meu marido estávamos almoçando na casa dos meus pais até que um telefonema fez com que, pois a doença famigerada ...o câncer...havia chegado e era meu pai o paciente!

Estávamos num sábado, almoçando na casa dos pais e meu marido teve que sair e eu fiquei por lá. Eles moravam no bairro do Campo Belo-Zona Sul de Sampa. O caminho do meu marido o levava até um cruzamento entre a Rua “X” e a Rua Joaquim Nabuco. Ele estava no farol vermelho...e o farol abriu...ele engatou a primeira, olhou para os dois lados ...direita e esquerda...e ia entrar na Joaquim Nabuco à esquerda. Tudo tranqüilo...engatou a primeira e estava entrando...quando surgiu um veiculo... vindo da direita...sem sequer dimunir a velocidade...saiu do carro à frente, que estava parado no vermelho...e pegou meu marido “em cheio”! Era um Premio da Fiat...e ele deu umas “dez rodopiadas”...e parou. O Gol da Mulher entrou num muro! Voltando à casa dos meus pais...de repente, toca o telefone! Minha irmã mais velha atende...e vem “branca”...e me dá o seguinte recado: “O Seu maridão bateu o carro na joaquim Nabuco...uma doida atravessou no vermelho...ele está bem...ele mesmo ligou”!
Eu levantei impulsivamente...meu irmão mais velho também estava lá. Fomos no seu carro.....! Era muito próximo...e quando estávamos chegando...ouço e vejo uma ambulância do Resgate sair de lá...em velocidade ...e cirene ligada! Quase desmaiei de susto...! Ao chegarmos no local do acidente...vejo o Premio todo amassado...destruído! A minha sorte, é que meu maridão estava do lado do carro...falando...gesticulando...em pé...na rua! Cheguei perto dele e o abracei...! Só vi uma marca vermelha...um tremendo arranhão no seu pescoço...foi a marca do Cinto de segurança! Segundo os Policiais...foi o que salvou sua vida!
Bem, vocês podem estar se perguntando...”É obrigatório o uso do cinto...não há novidade alguma”!
Há sim!!! Não havia Lei alguma sobre o Uso do Cinto de segurança naquele dia...naquela época!
E por que ele estava usando?! Ele sempre usou o cinto e quando começamos a namorar (1985), ele me fez compreender os motivos do uso...os benefícios que ele trazia...falou das palestras que assistiu na Escola Politécnica da USP...e conheceu os índices estatísticos do não uso...dos acidentes que geraram morte do motorista...por ter sido jogado para fora do carro...segundo a força da Inércia...e os acidentes nos quais os dois...ele e o carona foram lançados para fora...ou destruíram sua cabeça no para-brisas do carro...etc...etc por causa da brecada imediata...e os corpos continuavam em movimento...!!! Assim sendo, tornou-se natural...usual...eu nem pensava ...entrava no carro e já amarrava o Cinto!

Quando aconteceu aquele acidente...de janeiro/94, toda a família sensibilizou-se...e passaram a usar o Cinto...sem preocuparem-se se era ou não Lei! Aliás, ainda não era!

Pois é, só a Lei gera nova postura...mentalidade...conscientiza ...traz um novo conceito de válido ou não válido.. útil...ou inútil...etc???
Por que eu comecei nosso Artigo falando disto...contando esta experiência que tive?!

É porque quero muito falar com você sobre uma outra “Cultura”...outra mentalidade...que se faz cada vez mais necessária...independentemente, de haver Lei...multas...!
Quem nunca ouviu falar da Lei de Quotas... para Admissão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho?
Esta lei comemorou seus dezoito anos de vida...agora em julho!
Tantas vezes, quando participo de algum Fórum sobre o tema Inclusão, outras vezes, quando estou visitando um possível Cliente...e o sinto não estar “sintonizado” com as estratégias e os resultados favoráveis à Empresa...que a admissão de Pessoas com Deficiências irá trazer...de fato!
Eu estou em “parceria” com este Colega de “opção profissional”, compatibilidade de objetivos e valores pessoais...enfim, juntos...eu de um “lado da margem da vida...a da Deficiência adquirida, tendo trabalhado na sua margem da vida...durante quarenta anos de idade...e quase vinte de Carreira”!
Muitas vezes, me pego lembrando do “tal acidente com o Premio da Fiat...meu marido usando o cinto de Segurança...o que salvou sua vida...sem precisar ter qualquer Lei que o obrigasse a usa-lo”! Será que não traria maior excelência na tarefa de “fazer a inclusão de pessoas com Deficiência” na sua Empresa...se o Solicitante de Ações de Consultoria...de Apoio Técnico -Profissional tivesse tido a oportunidade de ter acesso a informações...dados...cases reais...ganhos comprovados...com o sucesso da Inclusão”?!!!
Eu que vivi a experiência de me convencer do uso do tal Cinto...pois concluí que eu não o usava para benefício de outra pessoa, além de mim mesma? Não usava o cinto só para agradar o namorado, na época...eu usava pois acreditava no que aprendi com ele! E nunca usei o cinto, para não ser multada...uso pois sei do risco que corro sem ele!!!
É, acredito que às vezes, confundimos assumirmos uma mudança de visão...mentalidade...com uma “punição”...com a obrigação de fazer algo, sem querer...sem ter escolhido tomar tal decisão ou não!
Vamos parar um pouco e refletir ...juntos?

A quem eu estarei “satisfazendo”...ao Ministério do Trabalho e Emprego...se eu puder oferecer a oportunidade de concorrer a uma das vagas que eu tenha em meu Quadro Funcional, a uma Pessoa com algum tipo de Deficiência cientificamente definida, desde que analisadas e definidas as estratégias que melhor sirvam ao business...à Qualidade de Vida da Força de trabalho...aquela que faz a Empresa acontecer!
Será que é obrigatória a existência de uma Legislação para que os deveres e direitos das pessoas de forma geral...sejam respeitados?!
Eu me coloco no lugar do Cliente...e faço o exercício de flexibilizar meu papel...e ver-me no seu posto de trabalho...tendo metas globais...mudanças constantes..crises contínuas...e de repente...me vejo tendo que aprender a guiar uma Pessoa que não enxerga com os lhos sensoriais?! Ou ficar frente a frente com uma Pessoa que não consegue se mover com suas próprias pernas...e vive sentada em uma Cadeira de Rodas? E se eu tiver que me comunicar com um surdo...como ele vai me ouvir...me entender??? E apesar de tudo eu terei clientes e fornecedores internos a me cobrarem prazos...cumprimento de normas...de excelência no fluxo de trabalho.......não é pra levar qualquer um ao estresse??!!!
Agora, vou voltar ao meu papel real de Pessoa com Deficiência Visual adquirida...e entrar no meu mundo...meu cenário interno...meus objetivos... minha vontade de continuar produzindo...criando...trabalhando...se eu tenho certeza que não estão nos meus olhos sensoriais, a minha inteligência...minhas experiências que me fizeram chegar até aqui...agora! Não é por não ver pelo canal sensorial que enxerguei por quase quarenta anos de vida...que não conseguirei “ver” os problemas...as oportunidades...os caminhos mais estratégicos...as saídas.. as
alternativas...os “sins e nãos” que temos que saber assumir! termos sensatez para colocar limites ...e como sabermos lidar com os “limites” que surgiram ...sem pedirem licença...e me fizeram aprender a viver de outra maneira?! Aprendi a viver em sociedade...por necessidade...por ter que muitas vezes, “ver pelos olhos do outro”, para ampliar a minha análise e todo o processo que acontecerá dentro de mim, mas é preciso admitir as impossibilidades, sem acreditar que é possível encontrar outros caminhos!
A primeira conclusão que emerge, neste momento, é ...parece que quanto mais ocorrer uma “aproximação” entre estas ”duas margens da vida”: a da normalidade e a da deficiência cientificamente definida!
Como alguém que nunca conviveu com uma Pessoa com deficiência Auditiva, vai saber e ter a segurança de acreditar que é mais que possível...e natural faze-lo?
Só há uma forma de conseguir ter sucesso na Inclusão: aprendendo...que esta “ponte que liga as duas margens da vida” é uma via de mão dupla!
A melhor e comprovada alternativa se olharmos pelo lado do “Incluidor”...é aproveitar as oportunidades de conhecer...ampliar seu knowhow sobre o tema...contar com o trabalho de Profissionais que têm como missão, buscar dados...informações...estatísticas...o que deu certo e pode dar certo novamente...ou que não deu certo e pode e vai servir de aprendizagem num outro cenário organizacional... que vive para buscar experiências junto aos que devem ser “Incluídos” e saberão os melhores caminhos para aproxima-los...e se for alguém que já viveu nas duas “margens”...será mais verdadeiro...mais real!
Assim sendo, quando falamos em Inclusão de Pessoas com Deficiência, estamos abordando um processo que passa, necessariamente, pela fase de preparação ...informação dos “Incluidores”...e a esta fase damos o nome de SENSIBILIZAÇÃO!
Esta fase é útil e válida para ambos os lados: “Incluidores e Incluídos”!

Sem este momento de “encontro”...a Inclusão vai se tornar apenas um Projeto que deve ser cumprido, uma meta estratégica que será cobrada...! Deixando de poder ser uma aprendizagem e ganhos para a Empresa como um todo...o que já é comprovado em tantas Organizações de grande...médio e pequeno porte!
Vamos nos dar esta chance! Vale...é uma boa alternativa! Assim, cumpriremos a “tal Lei de Quotas”...como conseqüência...e saberemos otimizar a inclusão e tirar excelentes proveitos dela!

Vamos lá...é mais um desafio! É um “convite” que faço...vamos sair da “mesmice” de reclamarmos de multas...auditorias...e vamos aprender com aqueles que nem estavam “dentro da Lei de Quotas”...com menos de 100 funcionários no seu Quadro Funcional! Eu entrevistei o Presidente e o Vice-Presidente e ambos afirmaram que nem se importaram com leis...multas! Eles decidiram que era a melhor alternativa, ter Pessoas com Deficiência Visual para desenvolver e dar suporte ao software de voz da Microsoft! Não pensaram em leis e sim em maximizar e aprender com quem “vive na pele” a necessidade de seus possíveis clientes! Estou falando da micropower! Através do software de voz, Virtual Vision, aprendi que não se aprende com os olhos...e sim com o cérebro! Estas foram palavras do meu primeiro professor de micro...que além de dar aula na entidade de Reabilitação, a qual eu hoje sou Presidente Voluntária...ele foi o primeira Pessoa com Deficiência Visual admitida pela Micropower, a qual citei acima!
É por isso que eu falo sobre a Sensibilização como uma alternativa que traz Excelência...resultados positivos...e ganhos em tempo real para os “Incluidores e para os Incluídos”...não só os que foram admitidos ...mas aqueles que precisarão do suporte destes Profissionais que são “experts” no software e que sabem do que ...como...quem...estão falando..atendendo!
Este exemplo pode ser levado para o Mercado como um todo! Conhecendo o que é...como lidar...dados reais...possibilidades práticas...dificultadores que devem ser eliminados e facilitadores que são maximizados...mesmo que não seja um business relativos às Pessoas com deficiência! As lições de como superar crises...barreiras...limites impostos por preconceitos sem sentido nem espaço em pleno século XXI...o quanto aprendemos com a vontade...a motivação...a “garra”...daqueles que aprenderam com os “nãos” que ouviram com tanta freqüência de uma sociedade fechada e voltada para negação do que é novo...desconhecido! Não se tratam de “super-heróis”...ou “coitadinhos”!
São pessoas que têm direitos e deveres...que podem e outras vezes, não podem...mas não se abatem com as dificuldades...elas movem sua energia para superarem-se...sempre!
 

Vem comigo!
Temos que aprender a sonhar ...voltarmos pro ninho...reaprendermos a viver...e conquistarmos a arte de sorrir cada vez que o mundo diz não!
Lílian Cury